domingo, 21 de fevereiro de 2016

64 - A HISTÓRIA DA ESPÉCIE NO DNA DOS ESQUELETOS

A HISTÓRIA DA ESPÉCIE NO DNA DE ESQUELETOS

ROBERTO KAZ

FOLHA DE SÃO PAULO 10/01/2016

Esqueletos humanos contam histórias. A distribuição de ossadas e a idade delas revelam onde e quando o Homo sapiens surgiu (na África, cerca de 200 mil anos atrás), como se espalhou (primeiro pelo Oriente Médio, em seguida pela Ásia, e só depois pela Europa) e que percalços teve de enfrentar (uma possível disputa com o neandertal) até se estabelecer como a espécie dominante.

Até recentemente, a história contada por esqueletos era de posse quase exclusiva da arqueologia. Mas estudos que analisam o DNA de pessoas vivas ou de ossadas têm provocado uma revisão do que se sabe da nossa história. A análise genética de uma pessoa, que custava cerca de US$ 1.000 em 2009, hoje é feita por um décimo do valor. O barateamento da técnica levou a um aumento no banco de dados da humanidade –com resultados cada vez mais precisos.

Um exemplo recente foi publicado no final de outubro na revista americana "Proceedings of the National Academy of Sciences".

Geneticistas de três universidades americanas analisaram o DNA das ossadas de duas crianças mortas há 11.500 anos no Alasca. Descobriram que, embora tivessem sido enterradas juntas, não tinham a mesma mãe ou avó. Eram geneticamente bastante distintas.

Naquele período de clima glacial, Ásia e América do Norte estavam unidas por uma faixa de terra que se estendia pelo estreito de Bering. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a colonização do continente americano havia sido feita por um pequeno grupo, que avançara por essa faixa aos poucos, de geração em geração, ao longo de milhares de anos.

Se o grupo fosse de fato pequeno, seus indivíduos deveriam apresentar certa homogeneidade genética (quando uma população tem poucas pessoas, espera-se que todas tenham algum parentesco). Mas dois fósseis do mesmo período, enterrados ao mesmo tempo, apresentando genética tão díspar podem indicar duas coisas. Em primeiro lugar, que essa população não era tão pequena. Em segundo, que talvez fosse bastante variada.

ABORÍGENES
A ideia corrobora o que foi apontado por outros dois estudos, publicados nas britânica "Nature" e na americana "Science" há poucos meses. Coordenados por dois grupos independentes –ambos com participação de pesquisadores brasileiros–, os estudos apontavam uma estranha proximidade genética entre aborígenes da Oceania e das etnias brasileiras suruí, karitana e xavante.

Segundo os cientistas, a semelhança parece propor que a colonização da América tenha sido feita por dois grupos: um vindo do norte da Ásia, atual Sibéria, e outro que, após deixar a África, passou um período no sudeste da Ásia (de onde mais tarde migrou para a Oceania) –e de lá seguiu, também pelo estreito de Bering, em direção ao novo continente.

A hipótese não é de todo nova. Há tempos a arqueologia já observara uma semelhança física entre esqueletos da Oceania e da América do Sul. A geneticista Tábita Hünemeier, professora da USP e coautora do estudo publicado na "Nature", acredita que as duas ondas migratórias –de povos vindos da Sibéria e do Sudeste Asiático– tenham sido quase concomitantes.

Ela recorda que o professor Walter Neves, arqueólogo e antropólogo que coordenava o Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP, "já falava de duas entradas populacionais faz tempo". A análise genética veio tornar essa teoria mais sólida.

O DNA humano é formado por 27 mil genes que funcionam como a despensa para uma cozinha. A receita para fazer duas células –dos sistemas nervoso e digestivo, por exemplo– prescinde da ativação de genes específicos para cada uma delas (assim como um pudim ou um bolo vão usar ingredientes distintos da mesma despensa).

Mas a despensa genética também muda com o tempo, de acordo com o que o ambiente determina como necessário para a sobrevivência de uma espécie. Nós, humanos, ao contrário dos nossos antepassados, não temos rabo (tornado desnecessário à medida que descemos das árvores para ter uma vida sobre duas pernas).
Essa perda está marcada no DNA, em genes que foram desativados –permanecendo, ainda assim, estocados no genoma.

No livro "The Making of the Fittest" (O feitio do mais apto, sem tradução para o português), o cientista norte-americano Sean B. Carroll escreve que "cada mudança evolutiva numa espécie, da forma física ao metabolismo digestivo, nasce e é gravada no código genético". Explica que a sequência de DNA de uma espécie é um "registro completo do presente" mas também "uma janela" para o passado.

Por isso, a invasão da genética na arqueologia tem crescido substancialmente na última década.
Em 2013, um estudo capitaneado pela geneticista Priya Moorjani, então na Universidade Harvard, misturou evidências arqueológicas, sociológicas, literárias –e, é claro, genéticas– para estimar uma data para o surgimento do regime de castas na Índia.

Analisando o DNA de 571 indianos –todos vivos–, Moorjani concluiu que houve uma profunda mistura genética entre etnias no período que foi de 4.200 a.C. a 1.900 a.C. (a hipótese vem de cálculos estatísticos a partir do DNA presente para estimar o código genético no passado). A partir de então, a mistura foi bruscamente interrompida –sugerindo a aparição de algum impeditivo externo.

No artigo, publicado no "The American Journal of Human Genetics", Moorjani apontou que a mudança estava "espelhada em antigos textos indianos".

Ela escreveu: "O Rigveda, o texto mais antigo da Índia, tem seções compostas em momentos diferentes. As partes mais antigas não mencionam o sistema de castas e chegam a sugerir que houve um período de intercâmbio entre os grupos sociais". No texto, Moorjani frisa ainda que o sistema de quatro classes –brâmanes, xátrias, vaixás e sudras– "é mencionado apenas na parte do Rigveda possivelmente composta mais tarde". A partir da análise genética, sua equipe pôde sugerir quando era esse "mais tarde".
O estudo do DNA também foi usado para tentar entender a origem do povo basco –pequena população dividida entre a Espanha e a França cuja língua, o euskera, não tem conexão com qualquer outro idioma do mundo.

Em 2012, cientistas do Instituto Pasteur, da França, analisaram o código genético de 908 moradores da região. Identificaram seis mutações específicas –e ausentes em quem nasce no resto da Europa.
O geneticista Lluis Quintana-Murci, coordenador do estudo, escreveu no "The American Journal of Human Genetics" que os dados endossavam a hipótese de que os bascos descendam de caçadores que viviam na Europa antes que uma onda migratória trouxesse a agricultura do Oriente Médio. E lembrou que o "isolamento genético parcial dos bascos" tem paralelo na sua cultura, já que seu idioma é "linguisticamente isolado".

MIGRAÇÃO
A agricultura, por sinal, é um tema-chave nos estudos que misturam arqueologia a genética. Sabe-se que a atividade surgiu no Oriente Médio cerca de 10 mil anos atrás. Sabe-se, também, que ela se espalhou pela Europa há 7.500 anos. O que não se sabe ao certo é se a prática foi difundida pela palavra (por meio do intercâmbio cultural entre povos), ou pela migração (através da conquista territorial por tribos vindas do Oriente Médio).

O assunto foi abordado em diversos estudos. Num deles, publicado em 2009 na "Science", uma equipe formada por cientistas e antropólogos da Universidade de Mainz, na Alemanha, analisou o DNA de 45 esqueletos –20 de caçadores e 25 de agricultores– que viveram na Europa Central entre o período de 13.400 a.C. e 2.300 a.C..

Observaram um descompasso genético entre os praticantes das duas atividades –fortalecendo a hipótese de migração. "Nossos resultados", escreveu a geneticista Barbara Bramanti, "indicam que a transição para a agricultura na Europa Central foi acompanhada de um fluxo substancial de pessoas vindas de fora".
Dois dos maiores especialistas no campo que entrelaça história e genética são os pesquisadores americanos Joseph Pickrell, do New York Genome Center, e David Reich, da Universidade Harvard. Num artigo publicado em 2014 na revista "Trends in Genetics", Pickrell e Reich escreveram que o uso do DNA para o estudo das migrações é análogo, em termos de importância, "à invenção, no século 17, do microscópio de luz como uma janela para entender o mundo das células e micróbios".

Em entrevista à Folha por e-mail Joseph Pickrell disse que, "no geral", historiadores e arqueólogos têm estado abertos à reinterpretação genética da história.

"Claro, a visão que os geneticistas têm da história é algo simplista, então haverá interpretações equivocadas se não houver colaboração com outras disciplinas, o que tem acontecido." Ele acredita que o uso de DNA ainda nos ajudará a entender em detalhes a origem de certas línguas, a saída do Homo sapiens da África e, claro, a chegada dele ao continente americano.

ROBERTO KAZ, 33, jornalista, é autor de "O Livro dos Bichos", a sair em março pela Companhia das Letras.


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

63 - O Estado Islâmico é islâmico sim

O ESTADO ISLÂMICO É ISLÂMICO SIM

A primeira coisa que os chamados líderes moderados do maometismo (islamismo) e os intelectuais, os políticos e a mídia politicamente correta do Ocidente dizem quando ocorre um atentado terrorista praticado por maometanos (muçulmanos) radicais é que esses terroristas não são de fato islâmicos, que não seguem o verdadeiro islamismo, que os seus atos não têm respaldo no Alcorão e que seriam condenados por Maomé. O Islã, afirmam os muçulmanos "moderados", é uma religião da paz e tolerância. O terrorismo islâmico é resultado de uma leitura distorcida do Alcorão, insistem.

Acontece que existem sim diversos versículos nos capítulos (suras) do Alcorão que respaldam as ações do Estado Islâmico e de outras organizações revolucionárias praticantes do jihadismo (luta armada maometana), como a Al-Qaeda e os grupos do movimento talibã. O Novo Testamento, que contém a essência da doutrina cristã, também é objeto de controvérsias teológicas e de várias interpretações (basta lembrar a cisão entre católicos e protestantes e entre os próprios protestantes), mas não há nessa coleção de livros a defesa da violência como aparece tão frequentemente no Alcorão. Além disso, o Novo Testamento é considerado pelos cristãos um livro escrito por homens inspirados por Deus, com trechos que reproduzem as palavras de Jesus, a encarnação de Deus. Mesmo divinamente inspirados, esses homens estavam sujeitos a erros ou incompreensão da mensagem original. O Alcorão, por sua vez, é considerado pelos maometanos (muçulmanos) a reprodução literal das palavras de Deus transmitidas a Maomé, seu mensageiro, por intermédio do anjo Gabriel. Ali estão contidas as ordens diretas de Deus, segundo o islamismo. E entre essas ordens ou orientações está a defesa da violência contra não muçulmanos de uma forma disseminada que não existe no Novo Testamento. É difícil sustentar que o conteúdo desses textos alcorânicos precisa ser analisado de forma relativa ou que precisam ser contextualizados. Eles podem sim justificar a violência do terrorismo islâmico contra não muçulmanos e contra os próprios muçulmanos. 

Veja abaixo os versículos que justificam essa violência. Eles foram retirados da aclamada tradução do Alcorão feita diretamente do árabe por Mansour Challita (Editora Associação Internacional Gibran, sem data). Entre parênteses aparece o número do capítulo ou sura, seguido do versículo:

1. O ALCORÃO, A PALAVRA DE DEUS

Revelamos-te o Livro com a verdade para que julgues entre os homens conforme o que Deus te mostrou. Mas não sejas para os pérfidos um defensor. (4: 105)

Enviamos-lhes um Livro sabiamente elucidado: uma orientação e uma misericórdia para os crentes. (7: 52)

É uma blasfêmia atribuir este Alcorão a outro que não a Deus. Ele é a confirmação do que o precedeu e a elucidação do Livro incontestável do Senhor dos mundos. (10: 37)

Procuraria eu um árbitro fora de Deus quando é Ele que vos revelou o Livro com todos os detalhes? Aqueles a quem revelamos o Livro sabem que ele emana de teu Senhor, com a verdade. Não sejas, pois, um dos que duvidam. (5: 114)

Perfeitas são as palavras de teu Senhor, na justiça e na verdade. Ninguém as pode modificar. Ele ouve tudo e sabe tudo. (5: 115)

Será que não meditam sobre o Alcorão? Se não fosse enviado por Deus, encontrariam nele muitas contradições. (4: 82)

E obedecei a Deus e obedecei ao Mensageiro e acautela-vos. Se virardes as costas e vos afastardes, sabei que a Nosso Mensageiro só incumbe transmitir claramente a mensagem. (5: 92)

2. O CONVÍVIO COM OS NÃO MUÇULMANOS

Ó vós que credes, não tomeis por aliados os judeus e os cristãos. Que sejam aliados uns dos outros. Quem de vós os tomar por aliados é deles. Deus não guia os iníquos. (5: 51)

Ó vós que credes, não adoteis por amigos os que, tendo recebido o Livro antes de vós, tratam vossa religião de divertimento e objeto de escárnio, e não adoteis por amigos os descrentes. E temei a Deus se sois crentes. (5: 57)

Desejariam que fôsseis descrentes como eles: então todos seríeis iguais. Não tomeis amigos dentre eles até que emigrem para Deus. Se virarem as costas e se afastarem, capturai-os e matai-os onde quer que os acheis. E não tomeis nenhum deles por confidente ou aliado. (4: 89)

Aqueles que preferem a amizade dos descrentes à dos crentes, que esperam? A grandeza? Toda grandeza pertence a Deus. (4: 139)

Ó vós que credes, não prefirais a amizade dos descrentes à dos crentes. Quereis dar a Deus uma prova pública contra vós? (4: 144)

Deus vos recomendou no Livro de não vos sentardes com os que conversam de Suas revelações, rejeitando-as e desrespeitando-as até que mudem de assunto. Se o fizerdes, sereis como eles. Deus juntará na Geena [Inferno] os hipócritas e os descrentes. (4: 140)

3. A GUERRA SANTA E O TRATAMENTO AOS NÃO MUÇULMANOS

Combate, pois, pela causa de Deus. És responsável apenas por ti mesmo. E exorta os crente. Queira Deus  conter a força dos descrentes! Deus é mais forte e o mais rigoroso no castigo. (4:84)

Esses versículos, em especial, condenam os muçulmanos moderados ou acomodados e justificam a militância violenta dos jihadistas: Não há igualdade entre os crentes que permanecem em casa, sem serem inválidos, e os que combatem e arriscam bens e vida a serviço de Deus. Deus eleva os que lutam por Ele com seus bens e sua vida um grau acima dos outros. A todos, Deus promete excelente recompensa, mas conferirá aos combatentes paga superior à dos que permanecem em casa. (4: 95). Ó vós que credes, que vos sucede quando vos dizem: "Parti ao combate pela causa de Deus" e vós permaneceis imóveis como pegados à terra? Preferis a vida terrena ao Além? Os gozos da vida terrena são insignificantes comparados com os gozos do Além (9: 38). Se não combaterdes, Deus vos imporá um castigo doloroso e vos substituirá por outros, e em nada vós O prejudicareis. Deus tem o poder sobre tudo. (9: 39).

Ó vós que credes, temei a Deus e procurai aproximar-vos d'Ele e lutai pela Sua causa. E possais vencer. (5: 35)

Ó vós que credes, quando encontrardes os descrentes prontos para a guerra, não lhes volteis as costas. (8: 15). Quem lhes voltar as costas - a menos que seja por estratagema ou para juntar-se a outro grupo - incorrerá na ira de Deus, e sua morada será a Geena [Inferno] (8: 16). Na realidade, não foste vós que o matastes: foi Deus quem os matou; e não foste tu que atiraste as flechas quando atirastes: foi Deus quem aturou. Fê-lo para conferir aos crentes um justo benefício. Ele ouve tudo e sabe tudo. (8: 17) Este versículo justifica atentados terroristas como tendo sido guiados pela mão de Deus.

O castigo dos que fazem a guerra a Deus e a seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra é serem mortos ou crucificados ou terem as mãos e os pés decepados, alternadamente, ou serem exilados do país: uma desonra neste mundo e um suplício no Além (5: 33) Este versículo justifica as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico sobre os prisioneiros não muçulmanos.

Dize aos descrentes que, se se emendarem, o passado ser-lhes-á perdoado. E se reicindirem, que contemplem o exemplo dos antigos! Deus os observa. (8: 38). E combatei-os até que não haja mais idolatria e que a religião pertença exclusivamente a Deus. Se desistirem, Deus observa o que fazem. (8: 39)

4. MATAR MUÇULMANOS

Não pode um crente matar outro crente, a não ser por engano (4: 92). Quem matar um crente com premeditação, seu castigo será a Geena [Inferno] onde permanecerá para todo o sempre, e a cólera de Deus, e a Sua maldição, e um terrível suplício (4: 93). A morte de muçulmanos por outros muçulmanos pode ser justificada como acidental ("baixas colaterais", "fogo amigo"). Mas os jihadistas podem também dizer que os muçulmanos mortos não eram verdadeiros muçulmanos, que eram apóstatas ou traidores do islamismo.



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

62 Dica de leitura

http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/1.html

segunda-feira, 23 de março de 2015

61 - Gabarito da prova

Segue o gabarito da minha parte da prova.

1 ETAPA 2015

QUESTÃO 4 (a):  Uma sociedade complexa com estratificação/desigualdade social, Estado, cidades, arquitetura monumental, religião organizada e escrita.

QUESTÃO 4 (b): A produção de alimentos (agricultura, criação de animais), possibilitando a sedentarização e o crescimento populacional.

QUESTÃO 4 (c): Por que todos teriam que obter/produzir alimentos, o que reduziria a divisão de trabalho e impossibilitaria formação de classes, das cidades e do Estado.

QUESTÃO 5: POLÍTICA: despotismo oriental, com uma monarquia teocrática (monarca com poder ilimitado sagrado ou divino); ECONOMIA: agricultura era a principal atividade, forte intervenção estatal (dirigismo econômico); TRABALHO: servidão coletiva de camponeses sob o modo de produção tributário (camponeses produziam para sua subsistência e eram obrigados a produzir/trabalhar para o monarca/templos/Estado)

QUESTÃO 6:  E C E E E          QUESTÃO 7:  C C E C           QUESTÃO 8:  C C C E

 

terça-feira, 17 de março de 2015

60 - Os Idos de Março

Os Idos de Março

O 15 de março é uma data carregada de história – e de ficção

Por: Eurípedes Alcântara
 
Depois das grandes manifestações dos brasileiros contra o governo no domingo, dia 15 de março, muita gente se lembrou que há trinta anos, em um 15 de março, José Sarney tomou posse na presidência da República, colocando fim no regime militar instaurado em 1964. Fernando Collor também tomou posse em 1990 em um 15 de março, embora a data mais lembrada de seu atribulado período de poder seja o 29 de novembro de 1992, quando, em meio a um processo de impeachment no Congresso Nacional, deixou o Palácio do Planalto.

Mas esses eventos empalidecem diante de dois registros históricos de 15 de março. A chegada de Cristóvão Colombo à Espanha depois de descobrir a América e o assassinato de Julio César, o ditador romano apunhalado no ano 44 aC por senadores enciumados com seu crescente poder e temerosos do provável plano de se tornar ditador perpétuo da República Romana.

Os acontecimentos em torno do assassinato do grande general romano são mais conhecidos pela tragédia Júlio César, de William Shakespeare, do que mesmo pelos registros dos historiadores Lívio, Cassius Dio e Suetônio. Sobrevivem muitas ambiguidades a respeito de César. Muitas, mas não todas, introduzidas na corrente do pensamento moderno por Shakespeare. Como Kaiser e Czar, títulos dos monarcas alemães e russos, derivam de Cesar, dá-se quase sempre a confusão de que ele foi imperador de Roma - também por que se fazia chamar Gaius Julius Caesar Imperator et Pontifex Maximus. Ele era Imperatur para seus comandados nas legiões. Imperatur é comandante. Pontifex Maximus definia seu cargo (aliás, comprado pelos parentes ricos) de mais alto sacerdote.

A Roma de Julio Cesar era uma república. Seu filho adotivo, Otávio, foi o primeiro imperador romano. Shakespeare não se confunde nessa questão, mas, interessado em escrever uma peça só para ela, o dramaturgo inglês apagou de Júlio César a presença de Cleópatra, que estava em Roma no dia do assassinato de César. É de Shakespeare também a criação das derradeiras palavras de César ao receber a última das 23 punhaladas fatais dadas pelos senadores daquele que mais amava - e que as línguas de Roma diziam ser seu filho, apesar de César ter quinze anos quando o senador nasceu: "Et tu, Brute!" ("Até você, Brutus!" ).

Os mesmos rumores de que Cesar era pai de Brutus dão como mais certo que ao morrer o ditador falou em grego "Kai su, teknon!" ("Até você, filho!). Como forma de se diferenciar do latim da patuleia, os senadores romanos mais cultos em 44 antes de Cristo discursavam e conversavam em grego.

Shakespeare aproveita isso no diálogo entre Casca e Cássio, senadores aliados de César. Casca relata a César e a Cássio como foi a sessão do Senado naquela tarde.

CÁSSIO: Cícero falou alguma coisa?
CASCA: Sim, ele falou em grego.
CÁSSIO: E qual foi a reação?
CASCA: …não entendi nada… aquilo foi grego para mim.

Assim Shakespeare ajudou a impulsionar rumo ao nosso tempo a expressão latina "Graecum est; non legitur", que os monges medievais diziam de manuscritos em grego que não conseguiam traduzir. Deu no nosso familiar "Isso pra mim é grego", que usamos para dizer que não entendemos nada sobre que acabamos de ler ou ouvir.

Voltando ao 15 de março. Naquele dia, na peça, um adivinho no meio da multidão grita na direção de César quando ele ia para o Senado para o encontro com a morte: "Cuidado com os Idos de Março."
Desde então, a expressão os Idos de Março é usada para assinalar algum perigo iminente, mas ignorado. Outras datas referenciais do calendário lunar romano, as "Nonas" e as "Calendas" não tiveram a sorte de aparecer na peça de Shakespeare. As Nonas (o quinto ou sétimo dia, dependendo do número de dias do mês) praticamente foram esquecidas. As Calendas (o primeiro dia do mês seguinte) sobreviveram na expressão "Fica para as calendas gregas", significando que algo foi adiado indefinidamente. No calendário grego não havia calendas. Os Idos de Março, originalmente, marcavam o primeiro dia de lua cheia do Ano Novo, mas no tempo de Julio César eles já se referiam aos dias 13, 14 e 15 de Março. Mais de dois mil anos se passaram e os Idos de Março ainda assombram.

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-idos-de-marco

terça-feira, 10 de março de 2015

59 - A questão da origem dos índios


Pesquisadores descobrem marcas de DNA polinésio em índios botocudos

Trechos do DNA de populações polinésias foram encontrados no genoma preservado no crânio de índios brasileiros do século 19. Descoberta pode ajudar a compreender as ondas migratórias que povoaram a América
 
Clique no link abaixo para ler os detalhes

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisadores-descobrem-marcas-de-dna-polinesio-em-indios-botocudos

segunda-feira, 9 de março de 2015

58 - Exercícios de revisão

EXERCÍCIOS DE REVISÃO

1. Tucídides (460-400 aC) foi o maior historiador da Antiguidade e, para muitos, o maior historiador de todos os tempos. No início do seu livro "História da Guerra do Peloponeso", ele escreveu:

 Quem quer que deseje ter uma ideia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em consequência de seu conteúdo humano, julgará minha História útil e isto me bastará.

A respeito do conceito de história, responda:

a) Qual é a origem da palavra "história"?
b) Quais são os dois principais conceitos modernos de "história"?

2. O termo "Pré-História" surgiu na Europa em meados do século XIX e passou a ser mais empregado com a divulgação do livro Prehistoric Times (1865), do inglês John Lubbock (1865-1913). Tradicionalmente, a Pré-História é vista como o período da história humana anterior à escrita, ou seja, a época das sociedades ágrafas ou iletradas. Numa visão mais moderna, ela pode ser considerada como a época das sociedades simples, anteriores às civilizações (sociedades complexas com Estado, cidades e escrita). A Pré-História costuma ser dividida em várias fases ou períodos arqueológicos, de acordo com o material utilizado na fabricação de ferramentas e de armas e nas inovações tecnológicas desses instrumentos. Essas fases da evolução técnica, por sua vez, são associadas à determinadas formas de organização econômica e social e à outras invenções. Sobre esse assunto, responda:

a) Por que alguns estudiosos consideram as sociedades simples pré-históricas exemplos de "comunismo primitivo"?
b) Caracterize, em termos econômicos, os períodos paleolítico e neolítico
c) Muitos consideram que a agricultura foi uma invenção das mulheres. Por que?
d) O final do período pré-histórico foi transição para a civilização, especialmente em razão do crescimento da produção de excedentes alimentares. Relacione a produção de excedentes com a formação das cidades e das diferenças sociais.

3. Leia o texto que se segue:

O que distingue o historiador dos outros cientistas sociais é sua preocupação primordial com o tempo, com a duração, com a mudança e com as resistências à mudança, com as transformações e as permanências ou sobrevivências. Se a documentação adequada existir e estiver disponível, não há aspecto algum do presente que esteja fechado à pesquisa científica do tipo histórico.

                                                                                         CARDOSO, Ciro F. Uma Introdução à História. São Paulo: Brasiliense, 1984, pág. 107
             
 Utilizando-se do texto acima, quando necessário, julgue os itens:

(1) Para o autor, a História não é uma ciência social.
(2) No texto, o trecho "as transformações e as permanências ou sobrevivências" é uma referência ao processo histórico.
(3) A História utiliza-se de fontes históricas para realizar suas pesquisas, como está dito na passagem "Se a documentação adequada existir e estiver disponível."
(4) A "preocupação primordial com o tempo" implicou na necessidade de datar os fatos históricos e no estabelecimento de periodizações. Contudo, a periodização mais utilizada na História Geral (Pré-História e Idades Antiga, Média, Moderna e Contemporânea), costuma ser criticada pelo seu caráter eurocêntrico.
(5) Por ser científico, o conhecimento histórico é plenamente imparcial ou neutro – reflexo da preocupação do historiador de se afastar de questões contemporâneas e de influências ideológicas.

4. Leia o texto que se segue:

 O grande homem é grande não porque suas particularidades individuais imprimiam uma fisionomia individual aos grandes acontecimentos históricos, mas porque é dotado de particularidades que o tornam o indivíduo mais capaz de servir às grandes necessidades sociais de sua época, surgidas sob a influência de causas gerais e particulares. Thomas Carlyle (1795-1881), em sua conhecida obra sobre os heróis, chama os grandes homens de iniciadores. É um nome acertado. O grande homem é, precisamente, um iniciador, porque vê mais longe que os outros e deseja mais fortemente que outros. Resolve os problemas científicos colocados pelo curso anterior do desenvolvimento intelectual da sociedade, indica as novas necessidades sociais, criadas pelo desenvolvimento anterior das relações sociais, e toma a iniciativa de satisfazer a estas necessidades. É um herói. Não no sentido de que possa deter ou modificar o curso natural das coisas, mas no de que sua atividade constitui expressão consciente e livre deste curso necessário e inconsciente. Nisto reside a sua importância e toda a sua força.

PLEKHANOV, Georgii V. "O Papel do Indivíduo na História" in PLEKHANOV. A Concepção Materialista da História. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980, pág. 110

Julgue os itens sobre as ideias do texto acima :

(1) A história é resultado da ação dos grandes homens ou heróis, relegando um papel secundário ou mesmo marginal aos grupos sociais.
(2) O processo histórico é determinado pela ação das forças coletivas, que excluem o indivíduo de qualquer papel de importância nos acontecimentos.
(3) Apenas os cientistas e os grandes pensadores são heróis, já que são os únicos capazes de servir às grandes necessidades sociais de sua época.
(4) Os grandes homens podem se destacar na história e dar um novo rumo aos acontecimentos, mas suas ações são limitadas pela estrutura de sua sociedade e pela conjuntura em que vivem.
(5) Os grandes acontecimentos são, necessariamente, um reflexo das particularidades individuais dos heróis.