sábado, 25 de junho de 2011

25 - A importância dos soldados

Segue um trecho do discurso do presidente americano Barack Hussein Obama, proferido em 29 de maio, no Memorial Day. Encontrei esse trecho no blog http://aircombatcb.blogspot.com/, de Carlos E. Di Santis. As palavras de Obama invocam um realismo histórico que muita gente (incluindo muitos historiadores e professores de História) se nega a aceitar por motivos ideológicos ou ingenuidade.


...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar..."

terça-feira, 14 de junho de 2011

24 - Grécia: Época Clássica e Época Helenística

Pessoal, segue um resumo das aulas de Grécia Clássica e da Época Helenística.

Grécia: A Época Clássica (500-336 aC)

Durante a Época Clássica, a civilização das póleis atingiu o seu apogeu e conheceu um desenvolvimento artístico, literário e filosófico sem paralelo na história da Grécia Antiga. Mas esse período foi também marcado por grandes conflagrações, as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso. As primeiras afirmaram a independência das cidades-estados gregas e a segunda iniciou o seu declínio.

1. As Guerras Greco-Persas ou Guerras Médicas (500-448 aC)

Foram as guerras entre os gregos e os persas/medas (iranianos), causadas pela tentativa do Império Persa de dominar a Grécia. O conflito foi descrito pelo historiador Heródoto.

As guerras começaram como uma luta defensiva das póleis contra o imperialismo dos persas, mas, no final, ela favoreceu a expansão do poderio de Atenas no Mar Egeu e sua transformação na cidade-Estado hegemônica da Grécia.

1.1 Antecedentes

546 aC. O Império Persa conquista as póleis do litoral da Ásia Menor. O Império Persa, cujo núcleo era o Irã, dominava a maior parte do Oriente Próximo. Em 546 aC ele conquistou a Ásia Menor, inclusive as póleis localizadas no litoral do Mar Egeu fundadas pelos gregos na Primeira Diáspora (1000-900aC). Dessas cidades-Estados gregas, as mais ricas e famosas, como Mileto, localizavam-se na região da Jônia, que mantinha com Atenas fortes laços comerciais e culturais. Especialmente para Atenas, a Jônia e sua vizinha do norte, a Eólia, tinham uma grande importância econômica. Pelos seus portos passavam os navios que traziam trigo e escravos que os atenienses importavam das colônias gregas do Mar Negro.

Os persas interferiram nos assuntos internos das póleis e instalaram tiranos para governá-las e cobrar tributos.

1.2 A Revolta da Jônia (500-494 aC)

As póleis jônicas, lideradas pela cidade de Mileto, tentaram recuperar a independência em uma guerra de libertação contra os persas. Atenas e a polis de Erétria enviaram tropas para ajudar os rebeldes.

A rebelião fracassou. O imperador persa Dario I reconquistou a região, escravizou parte da população e, em represália pela participação de Atenas e Erétria na revolta, ordenou a invasão da Grécia continental.

1.3 A primeira invasão persa (490 aC)

Comandada por Datis e Artafernes, representantes de Dario I

Destruição de Erétria

490 aC, agosto. Batalha de Maratona: 10 mil hoplitas de Atenas (9 mil) e de Platéia (1 mil) derrotaram 30 mil persas em Maratona, próximo de Atenas.

Os persas retiraram-se da Grécia.

1.4 A segunda invasão persa (480-479 aC)

Sob o comando de um novo imperador, Xerxes I, os persas invadiram novamente a Grécia.

Para enfrentar o inimigo comum, as póleis fizeram uma aliança militar, a Liga Helênica. Esparta assumiu a liderança dos exércitos da Liga, mas Atenas destacou-se com uma co-liderança informal das forças navais. Os espartanos também lideravam uma outra aliança mais antiga das poleis do sul da Grécia (Liga do Peloponeso, criada em 550 aC)

480 aC, setembro. Batalha das Termópilas: 7 mil hoplitas gregos comandados pelo rei Leônidas de Esparta conseguiram conter por três dias 80 mil persas, atrasando o movimento dos invasores. No final,  Leônidas ordenou a retirada da maioria das tropas, mas permaneceu em Termópilas com 1400 hoplitas (300 espartanos, 700 de Téspia e 400 de Tebas). Os persas venceram a batalha e massacraram os gregos (morte de Leônidas). A batalha virou símbolo do heroísmo e do sacrifício coletivo pela liberdade da Grécia.

Os persas destruíram Téspia, Platéia e Atenas (a população tinha sido previamente evacuada para a ilha de Salamina)

480 aC, setembro. Batalha de Salamina: 370 navios gregos (metade deles atenienses), sob o comando operacional de Atenas, derrotaram 700 navios persas. Foi a batalha naval decisiva da guerra.

Depois de Salamina, Xerxes retirou-se da Grécia com o que restou de sua frota (500 navios), mas manteve parte do seu exército em território grego, sob o comando do general Mardônio, com a missão de destruir a Liga Helênica.

479 aC, agosto. Batalha de Platéia: 40 mil gregos, comandados pelo rei espartano Pausânias, derrotaram 70 mil soldados do Império Persa liderados por Mardônio (morto nos combates). Os remanescentes do exército persa abandonaram a Grécia. Foi a batalha terrestre decisiva da guerra.

Enquanto ocorria a Batalha de Platéia, outro importante confronto ocorreu na Jônia entre a Liga Helênica e o Império Persa: a Batalha de Mícale, quando 11 mil hoplitas (de um contigente naval de 40 mil gregos), sob o comando do outro rei espartano, Leotíquides II, derrotaram 60 mil persas e destruíram sua frota, atracada nas proximidades. A vitória da Liga Helênica foi seguida da libertação da Jônia e de outras partes das áreas gregas da Ásia Menor.

A dupla vitória grega em Platéia e Mícale inviabilizaram os planos persas de conquistar a Grécia continental e enfraqueceram seu domínio na Ásia Menor. A partir de 479 aC, os gregos assumiram a ofensiva e as Guerras Greco-Persas viraram um conflito pelo expulsão dos persas do Mar Egeu e das demais regiões da Ásia Menor que eles ainda controlavam.

1.5 Conseqüências das derrotas persas de 490-479 aC

A guerra dos gregos contra os invasores persas foi um dos conflitos mais decisivos da história. Apesar de sua inferioridade numérica (os gregos nunca conseguiram reunir mais de 40 mil soldados, enquanto os persas contaram com 100 mil homens na segunda invasão, entre forças terrestres e navais), as póleis derrotaram o império mais poderoso da época, preservando a independência e as tradições políticas e culturais helênicas, das quais somos herdeiros. No século V aC, mas principalmente no mundo ocidental contemporâneo, as Guerras Persas foram interpretadas ideologicamente como o início do confronto entre o Ocidente, com seus valores de liberdade e individualismo, e o Oriente, com suas tradições de despotismo.

2. As Guerras de Hegemonia (460-338 aC)

Foram guerras entre póleis rivais (Atenas, Esparta e Tebas) pela hegemonia ou supremacia na Grécia.

2.2 A hegemonia de Atenas (475-430 aC)

A continuação das Guerras Greco-Persas

Para muitas póleis, o fracasso do Império Persa na tentativa de conquistar a Grécia não encerrou as Guerras Médicas. Os espartanos consideravam que o conflito havia sido concluído com a expulsão do exército de Xerxes e a libertação da Jônia, mas não era essa a visão dos atenienses e dos jônios, que temiam novos ataques persas no futuro.

477 aC. Criação da Liga de Delos. A Liga de Delos foi uma nova aliança militar das póleis, sobretudo da Jônia e das ilhas do Mar Egeu. A Liga foi liderada por Atenas e não contou com a participação de Esparta, que continuou chefiando outra aliança, a Liga do Peloponeso. Com objetivos formalmente defensivos, a Liga de Delos visava também expulsar os persas dos territórios que eles ainda controlavam na Ásia Menor e no Egeu, regiões estratégicas para os atenienses.

As cidades membros da Liga tinham que contribuir anualmente fornecendo navios ou dinheiro para a manutenção de um tesouro comum, inicialmente sediado na ilha de Delos, local de um importante santuário. Os recursos da Liga financiaram uma grande marinha de guerra comandada por Atenas.

O fortalecimento de Atenas

Além de financiar a guerra contra os persas, os recursos da Liga foram utilizados pelos atenienses para reconstruir e embelezar Atenas (favorecendo o seu desenvolvimento cultural), remunerar os cidadãos pobres que participavam do regime democrático (que foi aperfeiçoado), ampliar sua esquadra (com marinheiros pagos) e fortalecer o seu comércio.

Por meio da Liga de Delos, Atenas criou um império marítimo e comercial no Mar Egeu e estabeleceu a supremacia ateniense sobre o mundo grego. Na prática, a Liga de Delos virou uma confederação marítima ateniense.

A Era de Péricles: a Idade de Ouro de Atenas

Péricles (495-429 aC) foi o político mais famoso de Atenas no século V aC. Aristocrata que liderou a facção democrática, Péricles era formalmente um estratego (general eleito), mas, na prática, desde a o final da década de 460 aC, ele se transformou no principal dirigente dos atenienses.

A “Época de Péricles” (460-429 aC) foi o momento mais famoso da democracia e da cultura atenienses (a Idade de Ouro de Atenas), cujo desenvolvimento foi, em grande medida, sustentado pela Liga de Delos.

Por iniciativa de Péricles, em 461 aC foi criada a mistoforia (a remuneração dos marinheiros e do exercício de alguns cargos públicos, aumentando a participação dos pobres na democracia); em 458 aC, cidadãos de baixa renda foram admitidos no arcontado (magistratura); em 454 aC o tesouro da Liga de Delos foi transferido para Atenas, ampliando o controle ateniense sobre os recursos dos aliados; e em 451 aC, a cidadania foi restringida, estipulando-se que apenas filhos de pai e mãe atenienses seriam considerados cidadãos. Péricles também construiu templos (como o Partenon) e estimulou o desenvolvimento artístico, sobretudo o teatro (as tragédias de Ésquilo, Sófocles, e Eurípedes; as comédias de Aristófones).

O imperialismo ateniense

O desenvolvimento cultural e democrático de Atenas na Era de Péricles foi acompanhado por um crescente imperialismo ateniense sobre as outras póleis. A maioria das cidades da Liga passou a ser tributária de Atenas e, em várias delas, foram estabelecidas colônias de cidadãos atenienses (as cleruquias). As póleis que tentaram abandonar a Liga foram punidas e os atenienses passaram a interferir nos assuntos de outras cidades-Estados, forçando a adesão à Liga ou substituindo oligarquias por democracias. O crescente imperialismo ateniense levou Esparta a entrar em confronto com Atenas.

2.3 A Primeira Guerra do Peloponeso (460-445 aC)

Foi a primeira guerra entre Atenas (Liga de Delos, póleis democráticas) e Esparta (Liga do Peloponeso, póleis oligárquicas). O conflito ocorreu na fase inicial da Era de Péricles, quando foram feitas as reformas democráticas radicais, e em meio a guerra da Liga de Delos contra os persas. No confronto ateniense-espartano, o equilíbrio de forças gerou um impasse militar, sem que um dos lados conseguisse uma vitória decisiva sobre o adversário.

448 aC. Paz de Calias. Acordo de paz entre Atenas (Liga de Delos) e o Império Persa (imperador Artaxerxes I), encerrando as Guerras Greco-Persas. A Pérsia reconheceu a autonomia das póleis da Jônia e retirou-se do Mar Egeu, em troca do compromisso ateniense de não interferir no Império Persa, isto é, não apoiar revoltas nas províncias persas.

445 aC. Paz dos 30 Anos. Entre Atenas e Esparta, encerrando a Primeira Guerra do Peloponeso. Atenas reconheceu a hegemonia espartana no Peloponeso e Esparta reconheceu a supremacia naval ateniense no Egeu.

No entanto, depois do acordo de paz, sob a liderança de Péricles o poderio marítimo e o imperialismo ateniense não pararam de crescer e a rivalidade com Esparta aumentou, o que acabou desencadeando uma nova guerra de hegemonia.

2.4 A Segunda ou Grande Guerra do Peloponeso (431-404 aC)

Essa guerra foi o mais famoso conflito militar entre as póleis, descrito, principalmente, pelo historiador grego Tucídides. Novamente Atenas, junto com a Liga de Delos, enfrentou Esparta e a Liga do Peloponeso.

Como no confronto anterior, o equilíbrio de forças gerou, inicialmente, um impasse militar. Mas dois desastres atingiram Atenas: uma peste em 430-427 aC matou um grande número de atenienses, entre eles Péricles (429 aC); e em 415-413 aC, uma audaciosa expedição naval polis de Siracusa na ilha da Sicília planejada por Alcebíades (primo de Péricles e principal liderança da época) foi derrotada, resultando na escravização de milhares de soldados atenienses e aliados.

Depois de outros fracassos militares em 405 aC, Atenas acabou derrotada por Esparta (404 aC). A democracia ateniense foi derrubada e os espartanos restauraram a oligarquia (de curta duração). Com sua vitória, Esparta transformou-se na polis hegemônica da Grécia.

2.5 Outras guerras de hegemonia

395-371 aC.  Guerra contra a hegemonia espartana. Tebas, liderando a Liga da Beócia, derrota Esparta e estabelece a hegemonia tebana.

371-362 aC.  Guerra contra a hegemonia tebana.  Atenas e Esparta formam uma aliança e derrotam Tebas.

As constantes guerras enfraqueceram as póleis, levando a Grécia a ser conquistada pela Macedônia (rei Felipe II), em 338 aC. As cidades-Estados gregas foram forçadas a fazer uma aliança militar com a Macedônia, a Liga de Corinto, estabelecendo a hegemonia macedônica.

Grécia: A Época Helenística  (336-146 aC)

Na Época Helenística os gregos e macedônios conquistaram o Império Persa e levaram a cultura helênica para o Oriente, criando uma civilização que combinou valores, crenças e religiões das duas culturas. Nesse período o sistema clássico das póleis entrou em decadência, culminando com a conquista da Macedônia e da Grécia pelos romanos no século II aC..

1. A formação do império greco-macedônico no Oriente 

 Em 337-336 aC, Felipe II, apoiado pela Liga de Corinto e em nome da união dos gregos, decidiu conquistar o Império Persa e preparou uma expedição greco-macedônica para invadir a Ásia Menor. Entretanto, ele foi assassinado em 336 aC. Seu filho Alexandre III, mais conhecido como Alexandre Magno ou Alexandre, o Grande, o sucedeu no trono e levou adiante o projeto imperialista do pai – mas precisou, antes disso, enfrentar a resistência de várias póleis contrárias à liderança da Macedônia. Os principais momentos do reinado de Alexandre e de sua política expansionista foram:

335 aC. Revolta dos gregos contra a Macedônia. A rebelião das póleis foi liderada por Atenas e Tebas. Alexandre sufocou a revolta, destruiu Tebas (poupou Atenas) e consolidou sua autoridade na Grécia.

334-326 aC. Conquista do Império Persa. O exército greco-macedônico, sob o comando de Alexandre, conquista o Império Persa. Alexandre tenta avançar sobre a Índia, mas foi obrigado a recuar por causa do motim do seu exército

326-323 aC. Governo de Alexandre no Oriente. Alexandre respeitou e manteve os costumes orientais, conseguindo uma aliança com as antigas elites do Império Persa, e fundou várias cidades gregas no Oriente. Isso favoreceu a fusão da cultura grega com a cultura oriental, gerando o helenismo ou cultura helenística. Em 323 aC,  Alexandre morreu e seu império foi dividido entre os generais macedônios e gregos.

2. Os reinos helenísticos e a expansão romana no Mediterrâneo Oriental


 O império de Alexandre foi substituído por vários reinos helenísticos, que continuaram o processo de fusão da cultura grega com a cultura oriental. Contudo, freqüentemente eles entraram em guerra uns com os outros, enfraquecendo-os no momento em que Roma estava se expandindo pelo Mediterrâneo Oriental. Em 148 aC, os romanos conquistaram a Macedônia e, em 146 aC, tomaram a Grécia. A partir desses fatos, a história da Grécia passou a ser parte da história do império romano.