sexta-feira, 21 de outubro de 2011

29 - Alta Idade Média Ocidental

1. A Idade Média

De acordo com a divisão tradicional da história, a Idade Média é o período situado entre a Idade Antiga e a Idade Moderna, simbolicamente iniciado em 476 (queda do Império Roma Ocidental) e encerrado em 1453 (queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente ou Bizantino). A historiografia francesa, muito influente no Brasil, costuma subdividir a época medieval em duas grandes fases: a Alta Idade Média (séculos V-X) e a Baixa Idade Média (séculos XI-XV).

2. A Alta Idade Média Ocidental (séculos V-X)

2.1 Aspectos gerais

No caso da Europa Ocidental, a Alta Idade Média foi marcada por uma série de ataques, invasões e migrações de povos ditos “bárbaros”; pela formação de reinos germânicos, em um processo de fusão com elementos romanos; pela consolidação do cristianismo católico; por uma relativa retração da vida urbana e das atividades mercantis; pelo desenvolvimento de uma agricultura mais produtiva do que a romana, embora mais voltada para a subsistência do que para o mercado; pela gradual expansão da servidão e recuo da escravidão; pela ascensão de uma aristocracia fundiária guerreira; e pelo nascimento e afirmação do feudalismo.

2.2 A primeira invasão bárbara (séculos IV-VI)


A primeira invasão bárbara na Europa Ocidental, composta sobretudo por povos germânicos, começou no século IV e foi dirigida contra o Império Romano, mas ela não cessou com a queda de Roma no século V e só foi concluída na segunda metade do século VI, quando os germanos da etnia lombarda conquistaram a Itália.

a) Conseqüências da primeira invasão bárbara

Destruição do Império Romano Ocidental. As cidades se esvaziaram com a insegurança e o comércio sofreu uma retração. O meio rural voltou-se mais para a subsistência.

Povoamento da Europa Ocidental pelos povos germânicos. Formação de reinos germânicos no Ocidente, como o reino ostrogodo na Itália (substituído em 568 pelo reino lombardo, outro povo germânico que invadiu tardiamente os ex-territórios romanos), o reino visigodo na Espanha, o reino franco na Gália (França), os reinos anglo-saxões na Britânia (Inglaterra) e o reino vândalo no norte da África (Tunísia e Argélia).

Síntese feudal. Fusão da sociedade romana (o “escravismo em decomposição”) com a sociedade germânica (o “tribalismo em transformação”), fato considerado decisivo para o nascimento do feudalismo. As grandes propriedades rurais (vila) passaram para as mãos da aristocracia guerreira, através de casamentos ou de expropriações.

2.3 O Reino dos Francos



Os francos criaram o principal reino germânico da Europa, com a “síntese feudal” mais equilibrada. Inicialmente restrito à França e Bélgica, o reino franco expandiu-se e acabou dominando a Alemanha, o norte da Itália, a Holanda, a Suíça e a Áustria, constituindo o mais poderoso império medieval da Europa Ocidental – o Império Carolíngio.

a) A Dinastia Merovíngia (482-743)


Os merovíngios (a primeira família real dos francos), lançaram as bases institucionais, militares e territoriais do Estado franco na Gália.

O reinado de Clóvis (482-511). O primeiro rei da França, Clóvis, unificou as tribos francas, expandiu o seu território pela Gália e converteu-se ao catolicismo, junto com milhares de guerreiros. Essa conversão foi decisiva para a sobrevivência da Igreja de Roma no Ocidente, ameaçada pelo paganismo de algumas tribos germânicas e pela heresia de outras. Foi o começo da aliança entre a Igreja e os reis da França: em troca de proteção militar, o clero católico garantia legitimidade religiosa à monarquia francesa.

A ascensão dos majordomos (séculos VI-VII). Depois da morte de Clóvis, a realeza ficou enfraquecida e o reino franco acabou dividido e reunificado diversas vezes, em benefício do poder local da nobreza e dos bispos, favorecendo a descentralização. A partir do final do século VII, ocorreu a ascensão dos majordomus ou prefeitos do palácio real: ministros que eram os chefes militares-administrativos que se tornaram a principal autoridade no reino.

A Batalha de Tours e Poitiers (732). O majordomus Carlos Martel derrotou os invasores muçulmanos no oeste da França, salvando o Ocidente da islamização, e fortaleceu o seu poder no reino.

A ascensão dos carolíngios (743-751). Pepino, filho de Carlos Martel, depois de destronar o último monarca merovíngio, Childeric III (743), consegue o apoio do papa Zacarias e assume o título de rei dos francos (751), inaugurando uma nova dinastia, a carolíngia.

b) A dinastia Carolíngia (751-987)

Os carolíngios tentaram restaurar o poder imperial romano no Ocidente e foram, inicialmente, relativamente bem-sucedidos. Durante os duzentos anos em que reinaram sobre a França, o sistema feudal emergiu e afirmou-se no país.

O reinado de Pepino, o Breve (751-768). Pepino consolidou a aliança entre o Estado franco e a Igreja Católica. O papa Estevão II, ameaçado pelos lombardos que dominavam a Itália, pediu socorro ao monarca franco. Em 754, Pepino pôs Roma sob proteção dos francos, invadiu a Itália, derrotou os lombardos e forçou-os a ceder territórios para a Igreja (a “doação de Pepino” que, junto com Roma, transformaram-se na base territorial do Estado papal).

O reinado de Carlos Magno (768-814). O principal rei carolíngio e o mais poderoso monarca europeu de toda a Idade Média, Carlos Magno conquistou a Alemanha (Guerras Saxônicas, 772-804), o norte da Itália (destruição do Reino Lombardo, 773-774) e a Áustria (791-796), entre outros territórios, formando o Império Carolíngio. Em 25 de dezembro de 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador romano, ou seja, restaurador do Império Romano do Ocidente. O império carolíngio foi dividido em distritos (condados e marcas) administrados por nobres nomeados pelo imperador – os vassi dominici. Esses governadores, por sua vez, eram fiscalizados por funcionários enviados por Carlos Magno, conhecidos como missi dominici. Também foi no reinado de Carlos Magno que ocorreu o chamado renascimento carolíngio, uma renovação da cultura escrita, que consagrou o latim como língua oficial e recuperou o interesse por obras clássicas, sobretudo romanas. Além disso, ocorreu um crescimento de escolas para a formação de administradores de origem nobre e de clérigos. Durante todo esse desenvolvimento cultural, a Igreja assumiu uma posição de destaque, fornecendo os principais intelectuais e educadores do império.

O reinado de Luis, o Piedoso (814-843). O filho e sucessor de Carlos Magno conseguiu manter a unidade do império mas teve que enfrentar a revolta dos seus filhos, que disputavam sua sucessão.

O Tratado de Verdun (843). Com a morte de Luis, o Piedoso, o Império Carolíngio foi dividido entre seus três filhos. No final do século IX, formaram-se dois reinos carolíngios, o Reino Franco Ocidental (França) e o Reino Franco Oriental (Alemanha, Áustria e norte da Itália, originando o Sacro Império Romano Germânico, no século X). Conseqüências: enfraquecimento da monarquia e fortalecimento da nobreza (duques, condes e marqueses), que adquiriu grande autonomia.

2.4 A segunda invasão bárbara (séculos IX-X)

A segunda invasão bárbara foi constituída pelos ataques e migrações dos normandos (vikings, vindos da Escandinávia), húngaros (magiares, nômades vindos da Rússia) e sarracenos (muçulmanos árabes e berberes do Norte da África), responsáveis por novas pilhagens e destruições. A segunda invasão bárbara consolidou o feudalismo. Os ataques dificultaram o comércio no Ocidente e deixaram várias regiões isoladas, forçadas a adotar uma economia de subsistência. A impotência dos monarcas, sobretudo na França, aumentou o clima de insegurança e fez com que muitos indivíduos procurassem a proteção da nobreza, em um processo chamado de recomendação – a pessoa ficava sob a proteção de um nobre e, em troca, passava a trabalhar para ele, em um estado de dependência que tendia a reduzir sua liberdade. Reis e nobreza, nobres e outros nobres, estabeleceram uma série de acordos com obrigações recíprocas, desenvolvendo a vassalagem.


2.5 O feudalismo

a) O problema conceitual

Não há acordo entre os historiadores sobre o que foi o feudalismo (alguns sugerem até mesmo a abolição do termo). A visão mais generalizada procura defini-lo como um “sistema” (o sistema feudal) – um conjunto de elementos econômicos (agricultura de subsistência), sociais (servidão, divisão estamental da sociedade), políticos (descentralização, suserania e vassalagem) e ideológicos (teocentrismo católico, cultura guerreira) interligados, que teria sido típico da Europa Ocidental nos séculos XI-XIV e que entrou em decomposição na Idade Moderna com a expansão comercial, o absolutismo, a reforma religiosa, o humanismo etc. Outros preferem considerá-lo um modo de produção (modo de produção feudal), que pode existir com um Estado descentralizado ou centralizado – um tipo de economia agrária, dominada por uma nobreza de grandes proprietários rurais que sujeitavam os camponeses à servidão para poder explorá-los, com pouco ou muito comércio. Nesse sentido, o feudalismo seria um fenômeno mais generalizado e duradouro que continuou existindo na Idade Moderna, embora decadente diante da ascensão do capitalismo. É essa visão de regime feudal que é utilizada na expressão de “transição do feudalismo para o capitalismo” nos séculos XV-XVIII. Esse conceito de feudalismo costuma ser identificado ao regime senhorial (que, no entanto, não depende necessariamente da servidão para existir)

b) Aspectos gerais da Europa nos séculos IX-X

A economia agrária. A terra era a principal riqueza, predominando a produção de subsistência. O comércio era reduzido, baseado mais nas trocas do que no uso de moedas (que nunca desapareceram), e as cidades pouco desenvolvidas. Dois tipos de propriedade rural se destacaram:
O senhorio fundiário (manor): uma grande propriedade rural dominada por um senhor (um aristocrata, nobre ou membro do alto clero). O senhorio estava dividido em terras de uso exclusivo do senhor (reserva), lotes explorados pelos camponeses (tenências) e terras de uso comum.
– O alódio: uma pequena propriedade rural de um camponês livre e independente de um senhor.

Os senhores feudais. Era a classe dominante, possuidora dos senhorios, uma aristocracia constituída pela grande nobreza guerreira (duques, condes, barões) e clerical (bispos).

Os camponeses e o regime senhorial. Os camponeses eram a maioria absoluta da população. Alguns viviam em alódios e eram totalmente independentes mas a maior parte vivia nos senhorios, submetidos ao regime senhorial: eles ocupavam um lote de terra, possuíam família, instrumentos de trabalho e animais. Trabalhavam para a sua subsistência, mas também produziam excedentes para o senhor por meio de serviços gratuitos (corvéia) nas terras reservadas ao aristocrata e com o pagamento de diversos impostos em produtos ou dinheiro (talha: obrigação de entregar parte da produção da tenência camponesa; banalidade: taxa pelo uso do moinho e forno do senhor). Esses camponeses dos senhorios podiam ser de dois tipos: servos (semi-livres, presos à terra), que eram a maioria (predomínio da servidão), e vilões (livres).

A sociedade estamental. A sociedade da Europa Ocidental na Alta Idade Média era constituída basicamente por senhores e camponeses, com baixa mobilidade social. Mas a partir do século XI o crescimento do comércio e das cidades permitiu a ascensão dos mercadores ou comerciantes (a burguesia). Foi então elaborada uma ideologia para justificar a separação entre os senhores e os burgueses enriquecidos, legitimando os privilégios da nobreza e do clero. A sociedade passou a ser vista como dividida em estamentos, estados ou ordens: grupos sociais hierarquizados de acordo com a função de cada um.
      Primeira ordem: clero (sacerdotes ou oratores), responsável pela vida religiosa e espiritual.
       Segunda ordem: nobreza (guerreiros ou bellatores), encarregada da defesa.
      Terceira ordem: povo (trabalhadores, incluindo a burguesia ou laboratores), encarregados do trabalho.

A descentralização política. Reis fracos, o poder estava fragmentado entre os nobres e bispos. Os senhores, sobretudo a nobreza guerreira, estavam ligados pelas relações feudo-vassálicas ou de suserania e vassalagem, razão dos senhores ficarem conhecidos como senhores feudais. O feudo era um bem que um senhor doava para outro senhor ou para um cavaleiro, permitindo o seu sustento, em troca da sua fidelidade e serviços, sobretudo militares. Suserano era o senhor que doava o feudo e vassalo era o senhor ou cavaleiro que o recebia. A homenagem eram os ritos que selavam a aliança e o compromisso de suserania-vassalagem, em um acordo considerado sagrado.

A ideologia religiosa. A religião legitimava a estrutura social (a servidão, os estamentos vistos como parte de um desígnio divino) e política (a realeza, os laços de suserania e vassalagem, baseados em juramentos em nome de Deus).

3. O Oriente Próximo na Idade Média

3.1 O Império Bizantino

O Império Bizantino ou Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla (Bizâncio), tinha seu núcleo na Ásia Menor e na Grécia. Em seu apogeu (século VI), ele dominou a Síria-Palestina, o Egito, a maior parte do Norte da África, a Itália e o sul da Espanha, estabelecendo a hegemonia marítima e comercial no Mediterrâneo. Herdeiro das tradições políticas romanas combinadas com o despotismo dos reinos helenísticos do Oriente, o Império Bizantino possuía uma monarquia centralizada teocrática (cristã) com leis baseadas no direito romano. Com efeito, sua cultura era uma síntese de elementos romanos, gregos, orientais e cristãos, com uma forte presença da Igreja Ortodoxa Grega ou Bizantina. Chefiada pelo patriarca de Constantinopla (nomeado pelo imperador), a Igreja Bizantina era subordinada ao Estado e independente de Roma, com quem possuía mais divergências de natureza política do que religiosa.

a) Principais momentos

527-565. Reinado de Justiniano. Expansão territorial e conquista de províncias no Ocidente visando restabelecer o Império Romano. Criação do Corpus Juris Civilis (codificação do Direito Romano) e do Codex Justinianus (o Código de Justiniano, reunindo as constituições imperiais).

635-710. Invasão árabe muçulmana. Bizâncio perde a Síria, Palestina, Egito e o norte da África.

726-843. A controvérsia iconoclasta. Vários imperadores tentam proibir o uso e a veneração de imagens e ícones mas fracassam diante da resistência popular.

850-1050. Nova expansão bizantina, sob a dinastia Macedônica, que anexou territórios nos Bálcãs.

1054. Cisma do Oriente. Ruptura da unidade cristã, com a separação definitiva entre Igreja Ortodoxa (patriarca Miguel Cerularius) e a Igreja Católica (papa Leão IX).

1070-1095. Invasão dos turcos seldjúcidas. A Ásia Menor é invadida pelos turcos, seguidores do islamismo. Os bizantinos são derrotados na Batalha de Manzikert (1071) e buscam uma aliança com o Ocidente, resultando no movimento das Cruzadas.

1204. Quarta Cruzada. Liderados por Veneza, os cruzados desviam-se de seus objetivos anti-muçulmanos e conquistam Constantinopla.

1204-1261. Império Latino. O Império Bizantino é dividido entre os cruzados e governado pela nobreza ocidental.

Séculos XIII-XIV. Florescimento artístico. Mas o Império Bizantino fica mais fraco, é invadido pelos turcos otomanos e tem seu território reduzido drasticamente.

1453. A queda de Constantinopla. Os turcos, sob o comando de Maomé II, conquistam Constantinopla (morte do imperador Constantino XI). A cidade (depois chamada de Istambul) virou capital do Império Turco Otomano.

b) A herança bizantina

O Império Bizantino preservou a tradição humanista grega e o Direito Romano, redescobertos pelo Ocidente durante as Cruzadas A chegada de refugiados bizantinos à Itália que fugiam dos turcos, contribuiu para o Renascimento Cultural italiano (séculos XV-XVI). Além disso, a Igreja Ortodoxa difundiu o cristianismo pela Europa Oriental, sobretudo na Rússia e nos Bálcãs. Depois da destruição do Império Bizantino, o Reino da Rússia herdou várias de suas tradições políticas e religiosas: o título de imperador (czar ou tsar, “caesar”), a monarquia teocrática, a Igreja Ortodoxa (Russa), Moscou vista como uma “nova Roma” etc.

3.2 Os árabes e o islamismo

a) A Arábia Pré-Islâmica

Os árabes (falantes do árabe, língua semita aparentada com o hebraico e aramaico) não eram os únicos habitantes da Arábia (Península Arábica) no início da Idade Média. Outros povos não-árabes viviam na região, principalmente no sul e no leste, embora a maioria também falasse línguas semitas. A arabização (adoção da língua árabe por povos não-árabes) da Arábia começou antes do islamismo, com a expansão de tribos árabes para o leste e o sul da península nos séculos I aC - II dC. A expansão do islamismo no século VII ampliou a arabização da Península Arábica: ao longo da Idade Média, os diversos povos da Arábia transformaram-se em um único grupo étnico.

Aspectos políticos. A Arábia pré-islâmica estava dividida em pequenos Estados (reinos, cidades-estados) e grupos nômades tribais (beduínos). As comunidades sedentárias estavam mais no sul, no Golfo Pérsico, na costa e proximidades do Mar Vermelho, e nos territórios adjacentes dos Impérios Bizantino e Persa. As comunidades nômades estavam espalhadas por toda Península Arábica, principalmente no interior.

Aspectos culturais. Até o final do século IV dC, a grande maioria da população da Arábia era pagã e seguia o politeísmo. Comunidades de judeus e de cristãos existiam em algumas localidades, difundido conceitos monoteístas e as tradições bíblicas. 

O papel de Meca. Meca era uma cidade-estado pagã na parte centro-ocidental da Arábia, na rota das caravanas, governada pela tribo dos coraixitas, que possuía um importante haram (enclave sagrado) – a Caaba, um santuário com vários ídolos. Entre os ídolos estava a Pedra Negra que, segundo uma antiga tradição monoteísta local, de influência judaica, foi dada por Deus a Adão. Essa mesma tradição monoteísta também afirmava que Abraão e seu filho Ismael viveram em Meca em tempos remotos.

b) Maomé e o nascimento do islamismo

O islamismo é uma religião monoteísta criada pelo profeta Muhammad ibn Abdallah ou Maomé (570-632), um comerciante de Meca, do ramo hashimita dos coraixitas. Maomé possuía o hábito de meditar em uma pequena caverna no morro de Hira, próximo de Meca, e foi em meio a essas meditações que ele recebeu a revelação divina, segundo os muçulmanos. Principais momentos do nascimento do islamismo:

610. Início da revelação divina a Maomé. Recebida do anjo Gabriel. Maomé era o “Mensageiro” e “Profeta” de Alá, escolhido por Deus para receber a revelação divina e levá-la aos homens, como no passado fizeram Abraão, Moisés e Jesus.

613-622. Maomé prega em Meca. Idéias: monoteísmo, iconoclastia (contra a adoração de imagens) e auxílio aos pobres. Entra em conflito com os coraixitas, que controlavam o comércio local e que temiam que ele espantasse os peregrinos de Meca.

622. A Hégira. Maomé e seus seguidores emigram de Meca para Iatreb (rebatizada Medina). Esse acontecimento é considerado o Ano 1 do calendário islâmico.

630. Maomé conquista Meca. Ele destrói os ídolos, mas mantém a Caaba e a Pedra Negra.

630-632. Maomé unifica a maior parte da Arábia. Utilizando a religião, as conversões de tribos e as guerras. Morreu em 632, depois de lançar as bases de um Estado teocrático islâmico.

c) Características do islamismo:

Islã (Islam): “submissão” (à vontade de Deus). Quem aceita o Islã, tornando-se seguidor do islamismo, passa a pertencer a ummah, a comunidade dos fiéis.

Muçulmano (muslim): “fiel, entregue a Deus”, seguidor do islamismo.

Corão ou Alcorão (Al-quran, “a leitura”): livro sagrado que contém a doutrina muçulmana, as mensagens que Maomé recebeu de Deus. Para seus seguidores, o islamismo não seria uma nova religião, mas o antigo monoteísmo restaurado em sua pureza original (transmitido por Abraão, Moisés e Jesus, considerados profetas antecessores de Maomé), que os judeus e cristãos haviam deturpado.

A Fé (iman): crença em um único Deus (Alá), nos seus profetas (o último foi Maomé), em anjos, no Alcorão, no Juízo Final e na Ressurreição.

Deveres do muçulmano: oração, peregrinação à Meca para rezar na Caaba, jejum no mês do Ramadã, ajuda aos pobres.

Jihad (esforço ou empenho): que pode assumir a forma de “guerra santa” (expansão e conversão pela conquista) muçulmana contra os infiéis, defendida principalmente pelos sucessores de Maomé (califas).

Sunnah: costumes e tradições baseadas nas ações e palavras de Maomé, recolhidas pelos seus seguidores, que complementam a mensagem divina do Alcorão.

Shariah: lei islâmica, baseada no Alcorão, na sunnah e na jurisprudência (fiqh, normas estabelecidas a partir de casos não previstos no Alcorão e na sunnah).

d) A expansão muçulmana

A expansão árabe (séculos VII-XI). Causada pelo crescimento populacional na Arábia e pelo ideal de jihad, foi favorecida pelos confrontos que enfraqueceram os impérios bizantino e persa (sassânida). A expansão foi liderada pelos califas (“sucessores” de Maomé), soberanos muçulmanos com autoridade religiosa e política. O Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica foram conquistados, arabizadas e islamizadas. A civilização árabe dividiu-se em vários reinos, que absorveram parte da cultura e tradições bizantinas, helenísticas e persas. O apogeu do poder árabe islâmico foi com a dinastia Abássida (califa Harun al-Rashid, 786-809), que adotou costumes da corte persa e fundou Bagdá como capital.

A expansão turca (séculos XI-XVII). Povo nômade originário da Ásia Central, convertido ao islamismo, os turcos conquistaram a maior parte do Oriente Médio e do Norte da África, dominando os árabes. Nos séculos XI-XIII, os turcos seldjúcidas enfrentaram as Cruzadas. Nos séculos XIV-XVII, os turcos otomanos conquistaram o Império Bizantino, os Bálcãs e a maior parte dos territórios árabes. Seu império entrou em decadência no século XVIII-XIX e foi dissolvido depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

e) A divisão religiosa do islamismo

Como no cristianismo e em outras religiões, o islamismo dividiu-se em diversas correntes, sendo duas principais: sunismo e xiismo.

Sunitas. Muçulmanos que, além de seguirem o Alcorão, consideram que a sunnah é uma outra fonte importante para a organização da comunidade islâmica. Os sunitas defendem que qualquer muçulmano que reúna sólidas virtudes (honra, respeito pelas leis, capacidade de trabalho) pode ser o chefe do Estado islâmico. A autoridade religiosa do governante islâmico, segundo os sunitas, é baseada em um consenso (ijma) da interpretação do Islã. É a corrente majoritária do islamismo (85% dos muçulmanos do mundo).

Xiitas. Muçulmanos que, embora reconheçam a sunnah, não dão a ela a importância dada pelos sunitas. Os xiitas defendem que a chefia do Estado muçulmano só pode ser ocupada por alguém que seja descendente de Maomé ou com ele aparentado. Acreditam que o chefe da comunidade islâmica é diretamente inspirado por Alá, sendo infalível, com os fiéis lhe devendo obediência incondicional. Na verdade, as diferenças doutrinárias entre sunitas e xiitas não são tão grandes como, por exemplo, as existentes entre muitas igrejas cristãs. De fato, o principal fator de identidade xiita é um sentimento de martírio e perseguição, iniciado com um episódio da história medieval islâmica chamado Massacre de Karbala (680), quando Husayn, neto de Maomé e líder de uma revolta contra o califa Muawiya, foi morto, junto com a maior parte da sua família e seguidores, em uma batalha no Iraque. Somente Ali, filho ainda criança de Husayn, sobreviveu. O episódio é comemorado todos os anos pelos xiitas, lembrado como o martírio da família de Maomé, em rituais religiosos de penitência e expiação. O xiísmo é uma corrente minoritária no conjunto do Islã, mas majoritária no Irã e Iraque.