terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

3 - Conceitos básicos (I)

AULA 1 - O QUE É HISTÓRIA

1. A origem da palavra “história”

A palavra história surgiu na Grécia antiga com o significado de “informação”, “investigação” e “pesquisa”. O termo evoluiu para o sentido de conhecimento do passado humano por influência dos trabalhos dos historiadores clássicos gregos (séculos V-IV aC), que viviam em uma cultura marcada pelo racionalismo e pelo antropocentrismo. Em suas pesquisas, os gregos já possuíam uma preocupação com a crítica aos testemunhos históricos, procurando entender as razões das ações humanas nos acontecimentos. Concentrando-se nos estudos do passado mais recente, os historiadores gregos elaboraram obras sob a forma de narrativas que enfatizavam os aspectos políticos e militares dos acontecimentos, buscando explicar as suas causas. Entre esses historiadores destacaram-se Heródoto (480-425 aC) e Tucídides (460-400 aC). Heródoto foi o precursor, autor do livro “Histórias”, resultado de suas pesquisas sobre as guerras entre os gregos e o Império Persa. Devido ao seu pioneirismo nas investigações do passado, foi chamado de “pai da História” pelo famoso político romano Cícero (106-43 aC). Tucídides foi autor de um dos mais importantes estudos históricos de todos os tempos, a “História da Guerra do Peloponeso”, que trata do conflito entre as cidades gregas. Tucídides foi mais rigoroso do que Heródoto na crítica às fontes, desenvolvendo um método científico e uma imparcialidade notável.

2. O conceito moderno de história
 
Atualmente “história” é uma palavra polissêmica, isto é, possui vários significados. Entre eles, dois se destacam: a história como “acontecimento” (escreve-se com h minúsculo) e a História como “conhecimento” (escreve-se com H maiúsculo).
 
2.1 A história
 
Em princípio, história é tudo o que aconteceu e o que acontece, podendo-se falar em “história da natureza” ou em “história do universo”. No sentido dado pelas ciências humanas, fala-se em “história dos homens”: o conjunto dos fatos de curta ou de longa duração que ocorreram e ocorrem nas sociedades humanas e na vida dos indivíduos. Em geral, os fatos históricos não são acontecimentos isolados, mas fazem parte de uma cadeia de acontecimentos interligados, envolvendo as diversas áreas de atuação dos homens (cultural, política, econômica) em suas relações entre si e com a natureza. O desenrolar desses acontecimentos, as mudanças, permanências e transformações das sociedades humanas no tempo constituem o processo histórico.

Quem faz a história?
 
Essa é uma das questões mais polêmicas da História. Em princípio, a história é um fenômeno social, resultado da ação inconsciente ou consciente de indivíduos, de grupos de pessoas e dos povos. Nesse sentido, os homens e as mulheres fazem a história de forma coletiva, estabelecendo relações entre si e com a natureza, constituindo pequenas comunidades, tribos, classes sociais, nações, Estados etc. Contudo não devemos desprezar ou minimizar o papel do indivíduo nos acontecimentos históricos. A personalidade, as idéias, as atitudes, as decisões e indecisões de um dirigente político ou de um comandante militar, as concepções de um líder religioso ou de um filósofo, ou o gênio criador de um artista ou de um poeta, podem marcar profunda e decisivamente a história de uma ou de várias sociedades, em alguns casos alterando o rumo de seus processos históricos. Ainda assim, os chamados “grandes personagens” da história, por mais importantes que tenham sido, nunca agiram sozinhos e sempre tiveram algum tipo de ligação de dependência com parte da coletividade em que viviam. O indivíduo somente se destaca na história, com um papel decisivo para a sua época ou para a posteridade, quando suas ações ou idéias desencadeiam algum efeito sobre a sociedade, com seguidores, discípulos, admiradores, críticos e opositores – em muitos casos, não durante a vida do indivíduo, mas após a sua morte. Ou seja, ele se torna um “grande personagem” quando seus atos são transformados em um fenômeno social. Além disso, a ação do indivíduo (e também da coletividade em que está inserido) é limitada pelo contexto em que se encontra – as condições reais culturais, econômicas, sociais e políticas de sua época.

2.2 A História

A História entendida como “conhecimento” é derivada do sentido criado pelos antigos historiadores gregos. Nesse caso, História é o estudo do passado humano, distante e recente, buscando descrevê-lo e explicá-lo o mais objetivamente possível a partir do exame crítico das fontes históricas: os registros (documentos escritos, vestígios materiais, tradições e memória orais) dos fatos históricos, objetos de uma rigorosa análise dos historiadores. Essa investigação científica constitui a crítica histórica, ou seja, a verificação da autenticidade, a comparação e a interpretação das fontes históricas.

Neutralidade, objetividade e cientificidade da História

As informações fornecidas pelas fontes históricas são conseqüências das perguntas feitas pelo historiador – as perguntas que ele considera pertinentes para a pesquisa que está fazendo. Por essa razão, a ideologia e a base teórica que o historiador possui – a sua visão de mundo – assim como o momento histórico em que vive, o influenciam no uso dos documentos, na sua investigação científica e na elaboração do conhecimento. Além disso, ao selecionar e fazer a crítica das informações e dados que lhe interessam, baseando-se nas fontes históricas disponíveis e em determinadas teorias, o historiador faz uma reconstituição inevitavelmente incompleta. Os fatos e processos históricos estudados pelos historiadores são parte da história, mas não são toda a história. Isso significa que, quando analisa a história ou mesmo quando tenta reconstituí-la sem nenhuma pretensão de explicá-la, o historiador acaba sendo parcial, por mais que busque a objetividade. Como nas demais ciências humanas, o conhecimento criado pelo historiador não é completo ou acabado e pode ser superado por descobertas e estudos posteriores. As explicações dos fatos e dos processos históricos, com o tempo, são enriquecidas, revistas e, quando necessário, corrigidas por novas informações e por novos estudos.

A importância da História segundo os gregos
 
Heródoto e Tucídides, como os demais historiadores gregos, tinham consciência da importância da História para a formação político-cultural do indivíduo e para o conhecimento humano de uma maneira geral:
 Ao escrever suas pesquisas, Heródoto de Halicarnasso pretendeu evitar que as ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que os grandes e admiráveis acontecimentos tanto dos gregos quanto dos bárbaros não ficassem esquecidos... (Heródoto)
                                                                                                                                  
Pode acontecer que a ausência do fabuloso em minha narrativa pareça menos agradável ao ouvido, mas quem quer que deseje ter uma idéia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em conseqüência de seu conteúdo humano, julgará minha História útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida apenas no momento da competição por algum prêmio. (Tucídides)
 

3. A História e o tempo
A História é, fundamentalmente, o estudo do homem no tempo. Por essa razão, os historiadores precisam estabelecer uma cronologia, a atividade que verifica as datas e determina a ordem de sucessão dos acontecimentos no tempo, um tempo histórico que é irreversível e contínuo. Esse arranjo cronológico dos eventos é conhecido como datação, que serve de base para a periodização da história.
3.1 A datação
As datas na História baseiam-se nos calendários, que consideram como ano 1 o ano em que ocorreu um determinado fato extraordinário e marcante, sendo a partir dele contados os outros acontecimentos, posteriores e anteriores. No Ocidente, utiliza-se o calendário cristão, que considera como ano 1 o ano do nascimento de Jesus Cristo, o início de uma nova era – a “Era Cristã”. Em função disso os fatos são datados como ocorridos antes de Cristo (aC) ou depois de Cristo (dC), usando-se também a sigla AD, de anno Domini (“ano do Senhor”), no lugar de dC. De uma maneira geral, quando aparece uma data sem as siglas aC ou dC pressupõe-se que ela se refere a um fato ocorrido na Era Cristã. Um termo alternativo a “depois de Cristo” e a anno Domini é Era Comum (EC). Neste caso, os acontecimentos que antecederam a Era Comum são datados como AEC.
3.2 A periodização
A periodização busca organizar cronologicamente o processo histórico de uma sociedade ou de toda a humanidade, dividindo-o em idades ou épocas separadas uma das outras por acontecimentos-chaves. Esses acontecimentos simbolizam uma ruptura, a passagem de um período caracterizado, em suas linhas gerais, por uma organização social predominante ou típica (com uma cultura, modelo político e sistema sócio-econômico específico) para outro período, com um novo tipo de organização social, ainda que esta nova sociedade possua elementos da época anterior. A periodização da história da humanidade mais utilizada nasceu no Ocidente no século XVII e foi consolidada no século XIX. Ela tem como modelo o desenvolvimento histórico da Europa Ocidental e continua sendo amplamente adotada, apesar de suas limitações (seus críticos chamam-na de eurocêntrica, isto é, que considera a cultura européia superior às demais e sua história o padrão para se explicar a história das sociedades não-européias). As cinco idades da história geral ou universal e suas datas simbólicas, de acordo com a periodização mais utilizada no Brasil são:
Pré-História
Época das sociedades ágrafas (sem escrita) e simples ou primitivas (predomínio da subsistência, pouca diferenciação social, ausência do Estado). O começo da Pré-História está situado por volta de 2 milhões de anos atrás (aparecimento do gênero homo na África), mas seu término, simbolizado pelo aparecimento da escrita, varia dependendo da sociedade em questão e de sua localização geográfica. No Oriente Próximo (Ásia Ocidental e Egito) ela se encerrou por volta de 3000 aC, a data mais utilizada na periodização tradicional.
Idade Antiga (3000 aC-476 dC)
Época das primeiras civilizações – sociedades complexas com grandes diferenças sociais, cidades, comércio, Estado (instituições políticas, funcionários especializados, governo organizado) e, em geral, escrita. Na concepção tradicional, a Idade Antiga começou simbolicamente por volta de 3000 aC com a emergência das civilizações do Oriente Próximo e se encerrou em 476 com a queda do Império Romano Ocidental (a “queda de Roma”).
Idade Média (476-1453)
Período situado entre a queda do Império Romano Ocidental (476) e a queda do Império Romano Oriental ou Império Bizantino (1453). Na história da Europa Ocidental, a Idade Média costuma ser vista como a época da formação, apogeu e declínio da civilização católica feudal.
Idade Moderna (1453-1789)
Período situado entre 1453 e, de acordo com a visão mais usual, 1789 (começo da Revolução Francesa). Na história da Europa Ocidental, foi a época da transição da sociedade tradicional (economia agrária, predomínio da vida rural, forte religiosidade) para a modernidade (economia industrial, intensa urbanização, avanço do racionalismo e cientificismo). Essa transformação costuma também ser chamada de transição do feudalismo para o capitalismo.
Idade Contemporânea (1789 em diante)
Período que vai de 1789 aos dias atuais. É a época da afirmação da modernidade ou sociedade moderna, marcada pela revolução industrial e seus desdobramentos econômicos, sociais, políticos e culturais. Nesse período a globalização intensificou-se e todas as comunidades humanas ficaram conectadas por redes de interdependência.
 

Bibliografia

BORGES, Vavy P. O Que é História. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981. De fácil leitura, esse pequeno livro é uma das melhores introduções à História, de fácil compreensão.
CARDOSO, Ciro F. Uma Introdução à História. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981. Livro introdutório ao estudo da História, com uma excelente análise da cientificidade do conhecimento histórico.
 




                                                                                                                                  

 

 

 

 

 


 

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