1. A origem da
palavra “história”
A
palavra história surgiu na Grécia antiga com o significado de
“informação”, “investigação” e “pesquisa”. O termo evoluiu para o sentido de conhecimento do passado humano por
influência dos trabalhos dos historiadores clássicos
gregos (séculos V-IV aC), que viviam em uma cultura marcada pelo racionalismo e
pelo antropocentrismo. Em suas pesquisas, os
gregos já possuíam uma preocupação com a crítica aos testemunhos históricos,
procurando entender as razões das ações humanas nos acontecimentos.
Concentrando-se nos estudos do passado mais recente, os historiadores gregos
elaboraram obras sob a forma de narrativas que enfatizavam os aspectos
políticos e militares dos acontecimentos, buscando explicar as suas causas.
Entre esses historiadores destacaram-se Heródoto (480-425 aC ) e Tucídides (460-400 aC ). Heródoto foi o
precursor, autor do livro “Histórias”,
resultado de suas pesquisas sobre as guerras entre os gregos e o Império Persa.
Devido ao seu pioneirismo nas investigações do passado, foi chamado de “pai da
História” pelo famoso político romano Cícero (106-43 aC ). Tucídides foi autor
de um dos mais importantes estudos históricos de todos os tempos, a “História da Guerra do Peloponeso”, que
trata do conflito entre as cidades gregas. Tucídides foi mais rigoroso do que
Heródoto na crítica às fontes, desenvolvendo um método científico e uma
imparcialidade notável.
2.
O conceito moderno de história
Atualmente “história” é uma
palavra polissêmica,
isto é, possui vários significados. Entre eles, dois se destacam: a história como “acontecimento”
(escreve-se com h minúsculo) e a História como “conhecimento” (escreve-se com H
maiúsculo).
2.1 A história
Em princípio, história é tudo o que aconteceu
e o que acontece, podendo-se falar em “história da natureza” ou em “história do
universo”. No sentido dado pelas ciências humanas, fala-se em “história dos
homens”: o conjunto dos fatos de curta ou de longa duração que ocorreram e
ocorrem nas sociedades humanas e na vida dos indivíduos. Em geral, os fatos
históricos não são acontecimentos isolados, mas fazem parte de uma cadeia
de acontecimentos interligados, envolvendo as diversas áreas de atuação dos
homens (cultural, política, econômica) em suas relações entre si e com a
natureza. O desenrolar desses acontecimentos, as mudanças, permanências e
transformações das sociedades humanas no tempo constituem o processo
histórico.
Quem faz a história?
Essa é uma das questões
mais polêmicas da História. Em princípio, a história é um
fenômeno social, resultado da ação inconsciente ou consciente de indivíduos, de
grupos de pessoas e dos povos. Nesse sentido, os homens e as mulheres fazem a
história de forma coletiva, estabelecendo relações entre si e com a natureza,
constituindo pequenas comunidades, tribos, classes sociais, nações, Estados
etc. Contudo não devemos desprezar ou minimizar o papel do indivíduo nos
acontecimentos históricos. A personalidade, as idéias, as atitudes, as decisões
e indecisões de um dirigente político ou de um comandante militar, as
concepções de um líder religioso ou de um filósofo, ou o gênio criador de um
artista ou de um poeta, podem marcar profunda e decisivamente a história de uma
ou de várias sociedades, em alguns casos alterando o rumo de seus processos
históricos. Ainda assim, os chamados “grandes personagens” da história, por
mais importantes que tenham sido, nunca agiram sozinhos e sempre tiveram algum
tipo de ligação de dependência com parte da coletividade em que viviam. O
indivíduo somente se destaca na história, com um papel decisivo para a sua
época ou para a posteridade, quando suas ações ou idéias desencadeiam algum
efeito sobre a sociedade, com seguidores, discípulos, admiradores, críticos e opositores
– em muitos casos, não durante a vida do indivíduo, mas após a sua morte. Ou
seja, ele se torna um “grande personagem” quando seus atos são transformados em
um fenômeno social. Além disso, a ação do indivíduo (e também da coletividade
em que está inserido) é limitada pelo contexto em que se encontra – as
condições reais culturais, econômicas, sociais e políticas de sua época.
2.2 A História
A
História entendida como “conhecimento” é derivada do sentido criado pelos
antigos historiadores gregos. Nesse caso, História é o estudo do passado
humano, distante e recente, buscando descrevê-lo e explicá-lo o mais
objetivamente possível a partir do exame crítico das fontes históricas: os
registros (documentos escritos, vestígios materiais, tradições e memória orais)
dos fatos históricos, objetos de uma rigorosa análise dos historiadores. Essa
investigação científica constitui a crítica histórica, ou seja, a
verificação da autenticidade, a comparação e a interpretação das fontes
históricas.
Neutralidade, objetividade e cientificidade da
História
As
informações fornecidas pelas fontes históricas são conseqüências das perguntas
feitas pelo historiador – as perguntas que ele considera pertinentes para a
pesquisa que está fazendo. Por essa razão, a ideologia e a base teórica que o
historiador possui – a sua visão de mundo – assim como o momento histórico em
que vive, o influenciam no uso dos documentos, na sua investigação científica e
na elaboração do conhecimento. Além disso, ao selecionar e fazer a crítica das
informações e dados que lhe interessam, baseando-se nas fontes históricas
disponíveis e em determinadas teorias, o historiador faz uma reconstituição
inevitavelmente incompleta. Os fatos e processos históricos estudados pelos
historiadores são parte da história, mas não são toda a história. Isso
significa que, quando analisa a história ou mesmo quando tenta reconstituí-la
sem nenhuma pretensão de explicá-la, o historiador acaba sendo parcial, por
mais que busque a objetividade. Como nas demais ciências humanas, o
conhecimento criado pelo historiador não é completo ou acabado e pode ser
superado por descobertas e estudos posteriores. As explicações dos fatos e dos
processos históricos, com o tempo, são enriquecidas, revistas e, quando
necessário, corrigidas por novas informações e por novos estudos.
A importância da História
segundo os gregos
Heródoto e Tucídides, como os demais historiadores gregos, tinham
consciência da importância da História para a formação político-cultural do
indivíduo e para o conhecimento humano de uma maneira geral:
Ao escrever suas pesquisas, Heródoto de
Halicarnasso pretendeu evitar que as ações praticadas pelos homens se apagassem
com o tempo e que os grandes e admiráveis acontecimentos tanto dos gregos
quanto dos bárbaros não ficassem esquecidos... (Heródoto)
Pode
acontecer que a ausência do fabuloso em minha narrativa pareça menos agradável
ao ouvido, mas quem quer que deseje ter uma idéia clara tanto dos eventos
ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias
idênticas ou semelhantes em conseqüência de seu conteúdo humano, julgará minha
História útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um
patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida apenas no momento da
competição por algum prêmio. (Tucídides)
3. A História e o tempo
A História é, fundamentalmente, o estudo do homem no tempo. Por essa razão, os historiadores precisam estabelecer uma cronologia, a
atividade que verifica as datas e determina a ordem de sucessão dos
acontecimentos no tempo, um tempo histórico que é irreversível e contínuo. Esse
arranjo cronológico dos eventos é conhecido como datação, que serve de
base para a periodização da história.
3.1 A datação
As datas na História
baseiam-se nos calendários, que consideram como ano 1 o ano em que
ocorreu um determinado fato extraordinário e marcante, sendo a partir dele
contados os outros acontecimentos, posteriores e anteriores. No Ocidente,
utiliza-se o calendário cristão,
que considera como ano 1 o ano
do nascimento de Jesus Cristo, o início de uma nova era – a “Era
Cristã”. Em função disso os fatos são datados como ocorridos antes de Cristo
(aC) ou depois de Cristo (dC), usando-se também a sigla AD, de anno Domini (“ano do
Senhor”), no lugar de dC. De uma maneira geral, quando aparece uma data sem as
siglas aC ou dC pressupõe-se que ela se refere a um fato ocorrido na Era
Cristã. Um termo alternativo a “depois de Cristo” e a anno Domini é Era Comum (EC). Neste caso, os acontecimentos que
antecederam a Era Comum são datados como AEC.
3.2 A periodização
A periodização busca
organizar cronologicamente o processo histórico de uma sociedade ou de toda a
humanidade, dividindo-o em idades ou épocas separadas uma das
outras por acontecimentos-chaves. Esses acontecimentos simbolizam uma ruptura,
a passagem de um período caracterizado, em suas linhas gerais, por uma organização
social predominante ou típica (com uma cultura,
modelo político e sistema sócio-econômico específico) para outro período, com
um novo tipo de organização social, ainda que esta nova sociedade possua
elementos da época anterior. A periodização
da história da humanidade mais utilizada nasceu no Ocidente no
século XVII e foi consolidada no século XIX. Ela tem como modelo o
desenvolvimento histórico da Europa Ocidental e continua sendo amplamente
adotada, apesar de suas limitações (seus críticos chamam-na de eurocêntrica,
isto é, que considera a cultura européia superior às demais e sua história o
padrão para se explicar a história das sociedades não-européias). As cinco
idades da história geral ou universal e suas datas simbólicas, de acordo com a
periodização mais utilizada no Brasil são:
Pré-História
Época das sociedades ágrafas (sem escrita) e
simples ou primitivas (predomínio da subsistência, pouca diferenciação social,
ausência do Estado). O começo da Pré-História está situado por volta de 2
milhões de anos atrás (aparecimento do gênero homo na África), mas seu término, simbolizado pelo aparecimento da
escrita, varia dependendo da sociedade em questão e de sua localização
geográfica. No Oriente Próximo (Ásia Ocidental e Egito) ela se encerrou por
volta de 3000 aC, a data mais utilizada na periodização tradicional.
Idade Antiga (3000 aC-476 dC)
Época
das primeiras civilizações – sociedades complexas com grandes diferenças
sociais, cidades, comércio, Estado (instituições políticas, funcionários
especializados, governo organizado) e, em geral, escrita. Na concepção tradicional,
a Idade Antiga começou simbolicamente por volta de 3000 aC com a emergência das
civilizações do Oriente Próximo e se encerrou em 476 com a queda do Império
Romano Ocidental (a “queda de Roma”).
Idade Média (476-1453)
Período situado entre a queda do Império Romano Ocidental (476) e a queda do Império
Romano Oriental ou Império Bizantino (1453). Na história da Europa Ocidental, a
Idade Média costuma ser vista como a época da formação, apogeu e declínio da
civilização católica feudal.
Idade Moderna (1453-1789)
Período situado entre 1453 e, de acordo com a
visão mais usual, 1789 (começo da Revolução Francesa). Na história da Europa
Ocidental, foi a época da transição da sociedade tradicional (economia agrária,
predomínio da vida rural, forte religiosidade) para a modernidade (economia
industrial, intensa urbanização, avanço do racionalismo e cientificismo). Essa
transformação costuma também ser chamada de transição do feudalismo para o
capitalismo.
Idade
Contemporânea (1789 em diante)
Período que vai de 1789 aos dias atuais. É a
época da afirmação da modernidade ou sociedade moderna, marcada pela revolução
industrial e seus desdobramentos econômicos, sociais, políticos e culturais.
Nesse período a globalização intensificou-se e todas as comunidades humanas
ficaram conectadas por redes de interdependência.
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